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Marcos Resende Humor

Marcos Resende Humor

Bordão aos Borbotões

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Bordão?  Que negócio é este?

O que vem a ser bordão?
E eu — que não sou otário —
procurei no dicionário
e encontrei a explicação:
Bordão quer dizer bengala,
apoio, arrimo, porrete.
Pensei: que troço cacete
pra pôr na televisão!

Mas, por força do destino,
veio o Paulo Celestino
— que é diretor de artista —
e me ensinou que, bordão
é aquela frase-padrão
que dá força pro humorista.

 Ah, éé??? — eu perguntei.

— Pois é! — disse o Ary Toledo.
— Perdão! Posso esclarecer? —
pedi ao Jorge Lorêdo.
E tanta gente explicou
nos seus mííínimos detalhes –
que estou até ensinando,
com precisão e clareza,
— Porque, só abro esta boca
quando eu tenho certeza!

 

— E quanto é que eu levo nisso?
(Bordão do Moacyr Franco.)

Os bordões de antigamente:
— Ô, Guto, eu posso cantar?
— Tutu na mão do menino!
— Canta. Canta, mas não mente!

— "Tempo bom...  Não volta mais..." —
velhos bordões do Lilico.
— E então? Trabalhas na casa?
— Responde: É bonito isso?
E o Golias? Que saudade!
 — Ocride! — lembram-se disso?
Era sucesso total!
— Olííímpia! — Ô, Mussolini!
 — Esta família vai mal!...

 

Hoje em dia, outros bordões
(um mais velho, outro mais novo),
não saem da boca do povo
e grudam em seu coração.

 

O Af Maria do Chico
foi um bordão que deu pé.
— Barbaridade, guri! —
consagrou a Salomé.
— Sim, eu sou, mas, quem não é?
(bordão na medida certa)
enquanto o Pantaleão,
pergunta: — É mentira, Terta?

 

— Táis brincando! — do Costinha.
— Coisa horrorosa! — do Agildo.
— Guenta! — do Paulo Silvino.
— Não tem terror! — do Arlindo.
Geraldo Alves pergunta:
— Tens mãe?  (E lá vai Barão!)
Maria Teresa afirma
que furunfá é tão bão!...

Bordão é a palavra mágica
que ajuda a tocar pra frente!
Se a gente não se enganar
não vai dar para aguentar;
— Tá impressionante, né, gente?

 

— Madeleine? E o Brésil
que não sai do pensamento?
E esse Riô de Janeirro?
Como foi le carnaval?
O que? Caiu o cruzeiro?!
Em quanto? Trinta por cento?!
Não quer que eu volte, Madá!
Eu já sei: amancebou-se!
— Brasileiro é tão bonzinho!...
Mui amigo, esse gordinho
que planeja tanto aumento!

 

O bordão é um desabafo
um jeito de rir da fome,
porque, pra rir de verdade,
só se for assim c'os home!
Só se tiver um marido
feito o Oscar, podre de rico!
Só se for Paulo Gracindo
dando uma de Odorico;
só se for o Aragão
que foi a Serra Pelada;
e, quando Mussun lhe mostra:
— Renatis, a coisa é preta!
Ele diz, numa risada:
— Audácia da Pilombeta!

— O que?  Já falei demais?
— Só contaram pra você!
Quer que eu fale do Delfim?
— Queriiias! — já está no fim.
E — antes de despedir —
eu peço licença ao Jô
e também quero aplaudir!!!

São Paulo, 1983

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